quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Annie Leonard me conta “A História das Coisas”


Annie Leonard me conta “A História das Coisas”




(Efraim Neto/ Mercado Ético)


Consumo excessivo. Esse é um dos principais dilemas da atualidade. Com A História das Coisas, vídeo caseiro baseado em desenhos, Annie Leornad conquistou o mundo ao mostrar os efeitos de uma economia que valoriza o acúmulo de riquezas e de “coisas”. No vídeo de 20 minutos, Annie apresenta os resultados de mais de dez anos de pesquisas sobre o sistema de produção, distribuição, consumo e descarte de produtos no mundo.
Nesta entrevista, a ativista fala sobre suas experiências, aventuras e como devemos focar na qualidade de vida ao invés do consumo exacerbado. Ela conta sobre suas inspirações para o vídeo e o que a levou a escrever um livro contendo detalhes dessas experiências, sobre educação ambiental, sustentabilidade e sobre o papel da sociedade na instituição de uma nova cultura econômica e de consumo.
O filme, que deu origem ao livro, foi visto por mais de 15 milhões de pessoas, sendo o Brasil um dos países com maior número de telespectadores. Annie, que vive com a filha em uma comunidade em Berkley, na Califórnia, ainda destaca a importância de temos um superávit de coisas que realmente importam: o tempo para o lazer, qualidade de vida e a necessidade da sociedade reconsiderar suas prioridades, aprendendo a viver melhor e com menos.
Efraim Neto - Como surgiu a ideia de escrever o livro A História das Coisas?
Annie Leonard – Em uma inversão da ordem habitual. Primeiramente eu fiz o filme e, em seguida, escrevi o livro. O filme resumiu o que aprendi em 20 anos de viagens e estudos. Visitei fábricas e depósitos em todo o mundo e pude mostrar, em primeira mão, tudo sobre os impactos que a nossa forma de produzir e descartar “coisas” provocam em nossa saúde, no meio ambiente e na sociedade. A História das Coisas conta essas experiências de forma engraçada.
Depois que o filme saiu, recebi dezenas de milhares de emails pedindo mais informações sobre as histórias que ali contei. Fiquei tão feliz que as pessoas queriam falar sobre essas questões – geralmente mantidas fora da discussão pública -, que tentei responder a cada email. Mas isso não funcionou. Em vez disso, decidi escrever um livro que incluísse mais detalhes sobre as histórias apresentadas no filme, algo que pudesse também falar das minhas viagens.
EN – Em seu livro, você traz diversos questionamentos a respeito do estilo de vida humano. Qual a principal mensagem que você pretende transmitir com a História das Coisas?
AL – Minha mensagem principal é que podemos produzir coisas melhores e com menos. A mudança é possível. O nosso meio ambiente e corpos estão repletos de produtos químicos tóxicos. A nossa economia, por meio do consumo excessivo, gera quantidades enormes de resíduos e trata as pessoas pobres como descartáveis. Não precisa ser dessa maneira. Pode ser diferente. Com melhores tecnologias, políticas e mudanças na cultura, podemos ter uma sociedade que seja saudável, sustentável e justa.
EN – Relatórios recentes do UNEP têm apontando que necessitamos modificar os nossos meios de produção e consumo. O que você pensa a respeito disso?
AL – Isso está correto. Muitos acadêmicos e cientistas estão dizendo a mesma coisa. A humanidade está usando, a cada ano, mais recursos e gerando mais lixo do que o planeta pode suportar. A Global Footprint Network calcula que globalmente estamos usando 1,5 planetas. Os limites da Terra nos obrigam a aprender a usar os recursos de forma mais sensata, desperdiçar menos e compartilhar mais.
Isto significa que para melhorar nossas práticas precisamos tornar a produção industrial mais eficiente, mais saudável e sustentável. Há muito espaço para melhorar. Muitas empresas – grandes, médias e pequenas -, em todo mundo, estão demonstrando, através da redução do uso de água, energia e resíduos, compromisso com a sustentabilidade. A mudança é possível, mas requer redesenhar tudo: os produtos, as fábricas e o sistema energético, em especial. Precisamos cultivar os valores culturais em torno da qualidade de vida, da saúde, da felicidade e da comunidade.
EN – Em sua opinião, quais são os maiores gargalos do nosso modelo econômico?
AL – Há uma série de problemas fundamentais com o nosso atual modelo econômico. Um dos principais problemas é o foco no crescimento econômico e o PIB como o único instrumento para mensurar como a nossa sociedade faz isso. O crescimento econômico deveria ser um instrumento para avançarmos em direção aos objetivos sociais: comunidades mais saudáveis, pessoas mais felizes, ambientes mais limpos e boas escolas. Enquanto isso não mudar, viveremos uma situação ambígua, onde acidentes automobilísticos, derramamento de resíduos perigosos, construção de prisões e problemas de saúde parecem ser considerados positivos, uma vez que auxiliam o crescimento econômico.
Se eu pudesse mudar alguma coisa, criaria uma ferramenta pela qual pudéssemos avaliar o que estamos fazendo como sociedade. Não contaríamos apenas quanto dinheiro temos, mas sim se os nossos filhos estão saudáveis, se temos oportunidades de trabalho decente e educação de qualidade, se os membros da comunidade sentem-se seguros e felizes, se nosso ar está limpo.
EN – Será que estamos diante de uma mudança de paradigma na nossa realidade material?
AL – Há muitos lugares onde as atitudes estão mudando. Há, ainda, milhões de pessoas no mundo que vivem na pobreza, que vão dormir com fome e que precisam de ferramentas para chegar até um nível básico de saúde e dignidade. Na outra extremidade, há outros milhões que acreditam que o caminho da felicidade e segurança é no acumulo de riquezas materiais.
Mas essa atitude está mudando. Depois de décadas de longas horas gastas para que se consumissem mais coisas, estamos nos sentido sobrecarregados. Nossas casas estão cheias, nossas garagens estão cheias. Mesmo com o crescimento explosivo do “mini-armazenamento”, a indústria não pode manter-se com todas as coisas que as pessoas têm acumulado. Passamos os finais de semana comprando mais coisas. Por isso, temos menos amigos; estamos mais isolados socialmente, sem perceber que as coisas mais importantes na vida não são as “coisas” que acumulamos.
EF – Que mudanças estão ocorrendo na economia tradicional após a ampliação do debate sobre a sustentabilidade?
AL – É impossível ignorar a gravidade da crise ecológica. Em todo o mundo, muitos líderes já compreendem que o modelo de produção atual, cheio de resíduos, não terá futuro, por isso querem traçar um novo caminho. As empresas estão aprendendo a eliminar produtos tóxicos dos seus processos de produção, a reclicar a água e materiais, e, maciçamente, a reduzir o uso de energia. Claro, ainda existem empresas que estão resistindo às mudanças. Mas elas ainda serão obrigadas a aplicarem iniciativas de sustentabilidade. É possível, dentro de todos os setores produtivos, ter um negócio próspero com princípios da sustentabilidade.
EN – No livro, você relata histórias que mudaram sua percepção sobre as “coisas” e a economia. Qual dessas histórias mais chamou a sua atenção?
AL – A primeira vez que fiquei interessada em como as “coisas” influenciavam a economia foi quando eu ainda era apenas uma estudante da Universidade de Nova Iorque. Todos os dias no caminha para a aula, eu me perguntava sobre a quantidade grande de lixo nas ruas, algo esperando apenas para ser coletado. Me perguntava o que havia nas sacolas e para onde elas eram enviadas.
Certa vez, ainda estudante, fui até o aterro municipal. Foi uma experiência impressionante ver para onde todas as “coisas” iam: eletrodomésticos, roupas, livros, alimentos, calçados, embalagens. Isso me fez pensar que deve haver alguma forma de melhor atender as nossas necessidades sem desperdiçarmos tantos materiais. Então decidi passar os últimos 20 anos estudando isso: para onde as nossas “coisas” vão, o que há nelas e o que podemos fazer de melhor.
Se você ainda não foi ao aterro de sua cidade, recomento veementemente que vá. Ele lhe dará uma perspectiva fascinante sobre a sociedade do consumo que os anunciantes promovem tão fortemente.
EN – Qual o nosso maior desafio? Mudar a economia ou mudar as nossas atitudes?
AL – Precisamos fazer as duas coisas. A crise ecológica e social que enfrentamos é tão grande e tão interligada que todos nós estamos envolvidos. Precisamos mudar nossas políticas econômicas e industriais de modo a promover ambientes saudáveis, sustentáveis e meios justos de produção, assim como nos libertamos dessa obsessão pelo consumo. Basicamente, precisamos apertar o “reset” em nossa sociedade. Precisamos de diferentes tipos de edificações e de um novo planejamento urbano que incentive o transporte público e a congregação entre as comunidades. Precisamos redesenhar produtos para que eles possam estar livres de produtos químicos tóxicos e terem maior durabilidade. Precisamos de um sistema de gestão dos resíduos que incida sobre a reutilização e não apenas na queima ou soterramento das “coisas”. Com a mudança nas sociedades, os líderes e os empresários serão obrigados a pôr a sustentabilidade em prática. As leis precisam mudar junto com as atitudes. Está tudo interligado.
EN – Ao descrever as suas experiências, você fala de ética, direitos e deveres. Podemos afirmar que a crise no modelo econômico é uma crise ética?
AL – Essa é uma crise ética, física, biológica e social. O nosso atual modelo econômico está destruindo nossos ecossistemas e os recursos que o planeta dispõe, promove o aprofundamento das desigualdades e nega oportunidades para milhões de pessoas. É um sistema que premia alguns enquanto exclui outros, eliminando oportunidades para as gerações futuras. Para superar essas crises, podemos e devemos fazer melhor do que estamos fazendo.
EN – O que você pensa sobre economia verde?
AL – Infelizmente não há uma definição comum para a economia verde. Algumas empresas estão tentando lucrar com um “pacote verde”, mas continuam fazendo o velho: lixos e produtos tóxicos e descartáveis. Elas não estão indo para o caminho da sustentabilidade, mas sim se utilizando de “greenwashing”. No entanto, há uma economia verde que pode significar um sistema que funcione dentro dos limites do planeta, sendo compatível com os sistemas ecológicos que sustentam a vida e que é saudável para as pessoas.
Na verdade, dado que temos de aprender a viver dentro dos limites do planeta, uma economia que pode promover mudanças não deve ser vista como uma opção entre muitas, mas sim como a única opção. E todos nós podemos ajudar a instituir esse modelo econômico. Para isso, precisamos exigir o redesenho e uma revisão completa de nossa economia, e não nos contentarmos com as pequenas e aparentes mudanças que temos visto até o momento.

Livro - Identidades da Educação Ambiental Brasileira

http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/livro_ieab.pdf

A educação ambiental vive um momento histórico. Depois da
Conferência Internacional sobre Conscientização Pública para a
Sustentabilidade, realizada na Grécia, em 1997, o dia primeiro de janeiro
de 2005 ficará marcado na lembrança de educadores ambientalistas em todo
o mundo. Este será o primeiro dia da Década da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável (2005-2014).
Sob coordenação da Unesco, essa iniciativa das Nações Unidas,
instituída por resolução de sua Assembléia Geral, procura estabelecer um
grande plano internacional de implementação, tendo como referência os
preceitos da Agenda 21, em seu capítulo 36. Assim, os governos são
chamados a aderir às medidas necessárias para a aplicação do que propõe a
Década em seus planos e estratégias educativas.
O interessante é que mais do que por sua abrangência, essa convocação
atualiza o desafio paradigmático da educação ambiental quando a nomeia
como Educação para o Desenvolvimento Sustentável.
Inspirados por este desafio e, como governo, convocados a participar
da iniciativa, nos sentimos mobilizados. O primeiro passo é apresentar este
painel com retratos da educação ambiental brasileira, destacando algumas
entre aquelas denominações que vêm despontando pelo país: educação
ambiental crítica, emancipatória ou transformadora, ecopedagogia, educação
no processo de gestão ambiental ou ainda, alfabetização ecológica. O
mosaico de reflexões reunidas nesse trabalho permite reconhecer
diversidades, convergências, mas sobretudo identidades.
Com “Identidades da Educação Ambiental Brasileira”, o Ministério
do Meio Ambiente, por intermédio do Programa Nacional de Educação
Ambiental, oferece uma oportunidade, uma janela, um olhar introspectivo
para a educação ambiental no Brasil. A razão é simples: continuar
disseminando o diálogo, como essência do intercâmbio, da participação e
do controle social, diretriz da nova política ambiental integrada. Um passo
rumo a sustentabilidade, entre nós e em todo o planeta.

MARINA SILVA
MINISTRA DO MEIO AMBIENTE

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Livro - Bases Filosóficas para a Educação Ambiental

Pensar o Ambiente: 
Bases Filosóficas para a Educação Ambiental
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao4.pdf


Pensar o Ambiente oferece aos educadores possibilidades fecundas de leitura e reflexão a partir da contribuição teórico-conceitual de diversos pensadores – Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Bacon, Descartes, Espinosa, Rousseau, Kant, Marx, Freud, Heidegger, Arendt, Gadamer, Vygotsky e Paulo Freire – e do momento histórico em que viveram, incluindo excertos de textos clássicos desses pensadores com a respectiva contextualização social e histórica.

Os autores apresentam referências para que o leitor, mesmo não iniciado em filosofia, possa relacionar natureza/cultura/ambiente e compreender tal relacionamento de maneira contextualizada.

Trata-se, pois, de uma leitura provocativa e útil para professores, gestores, coordenadores pedagógicos, diretores de escola, educadores ambientais e outros educadores preocupados com a diversidade, a cidadania e a inclusão educacional e social.


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Sumário

Os Pré-Socráticos: os pensadores originários e o brilho do ser
Nancy Mangabeira Unger 

Aristóteles: ética, ser humano e natureza
Danilo Marcondes 

Santo Agostinho e São Tomás: a filosofia
da natureza na Idade Média
Alfredo Culleton 

Bacon: a ciência como conhecimento e domínio da natureza
Antonio Joaquim Severino 

Descartes, Historicidade e Educação Ambiental
Mauro Grün

Espinosa: o precursor da ética e da educação ambiental com base nas paixões humanas
Bader Burihan Sawaia

Rousseau: o retorno à natureza
Nadja Hermann 

Kant: o ser humano entre natureza e liberdade
Valerio Rohden

Karl Marx: história, crítica e transformação social na unidade dialética da natureza
Frederico Loureiro 

Freud e Winnicott: a psicanálise e a percepção da natureza – da dominação à integração
Carlos Alberto Plastino 

Heidegger: “salvar é deixar-ser”
Nancy Mangabeira Unger 

Vygotsky: um pensador que transitou pela filosofia, história,
psicologia, literatura e estética
Susana Inês Molon 

A Outridade da Natureza na Educação Ambiental
Mauro Grün 

Hannah Arendt: natureza, história e ação humana
Isabel C. M. Carvalho e Gabriela Sampaio 

Paulo Freire: a educação e a transformação do mundo
Marta Maria Pernambuco e Antonio Fernando G. da Silva 

Posfácio

O pensamento contemporâneo e o enfrentamento da crise ambiental:uma análise desde a psicologia social
Eda Terezinha de Oliveira Tassara 







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Outros livros da coleção Educação para Todos lançados pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC

volume 01: Educação de Jovens e Adultos: uma memória contemporânea
Volume 02: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03
volume 03: Construção Coletiva: contribuições à educação de jovens e adultos
volume 04: Educação Popular na América Latina: diálogos e perspectivas
volume 05: Ações Afirmativas e Combate ao Racismo nas Américas
volume 06: História da Educação do Negro e Outras Histórias 
volume 07: Educação como Exercício de Diversidade
volume 08: Formação de Professores Indígenas: repensando trajetórias
volume 09: Dimensões da Inclusão no Ensino Médio: mercado de trabalho, religiosidade e educação quilombola
volume 17: Católicos Radicais no Brasil
volume 10: Olhares Feministas
volume 11: Trajetória e Políticas para o Ensino das Artes no Brasil: anais da XV CONFAEB
volume 12: Série Vias dos Saberes nº1: O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje 
volume 13: Série Vias dos Saberes nº2: A Presença Indígena na Formação do Brasil
volume 14: Série Vias dos Saberes nº3: Povos Indígenas a Lei dos "Brancos": o direito à diferença
volume 15: Série Vias dos Saberes nº4: Manual de Lingüística: subsídios para a formação de professores indígenas na área de linguagem
volume 16: Juventude e Contemporaneidade
volume 17: Católicos Radicais no Brasil
volume 18: Série Avaliação nº1: Brasil Alfabetizado: caminhos da avaliação
volume 19: Série Avaliação nº2: Brasil Alfabetizado: a experiência de campo de 2004
volume 20: Série Avaliação nº3: Brasil Alfabetizado: marco referencial para avaliação cognitiva
volume 21: Série Avaliação nº4: Brasil Alfabetizado: como entrevistamos em 2006 
volume 22: Série Avaliação nº5: Brasil Alfabetizado: experiências de avaliação dos parceiros
volume 23: Série Avaliação nº6: O que Fazem as Escolas que Dizem que Fazem Educação Ambiental?
volume 24: Série Avaliação nº7: Diversidade na Educação: experiências de formação continuada de professores
volume 25: Série Avaliação nº8: Diversidade na Educação: Como indicar as diferenças? 
volume 26: Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
volume 27: Juventudes: outros olhares sobre a diversidade
volume 28: Educação na Diversidade: experiências e desafios na educação intercultural bilíngüe
volume 29: O Programa Diversidade na Universidade e a Construção de uma Política Educacional Anti-racista
volume 30: Acesso e Permanência da População Negra no Ensino Superior
volume 31: Escola que Protege: enfrentando a violência contra crianças e adolescentes
volume 32- Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas
volume 33: I Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular